Me pergunto quantas coisas desnecessárias a gente
carrega, quantas mágoas a gente não consegue deixar pra trás, quantos traumas a
gente finge que esqueceu, que superou, que engoliu, que passou. Não quero isso,
não quero uma vida fake. Quero verdade. Por isso, com toda a franqueza eu digo
que me perdoo. De verdade, me perdoo por todas as cagadas que já fiz na vida,
por tantas aulas de matemática que eu matei, pois por causa delas hoje eu uso
calculadora, conto nos dedos e ainda erro. Me perdoo pelas vezes que falei o
que não devia, assim, sem pensar. Hoje eu entendo que a gente deve pensar antes
de dizer as coisas, nem sempre consigo, mas me esforço. Me perdoo por ter
magoado as pessoas que amo algumas vezes - e não foram poucas. Me perdoo por
ter descoberto tarde o que eu realmente queria da vida. Me perdoo por ter tido
tantos medos tantas vezes. Me perdoo por ter mentido. Por ter aprendido muito
tarde a dizer "não". Por ter sido egoísta, estúpida, fútil e covarde.
Me perdoo por não ter renovado a carteira de motorista. Por ter matado a
academia. Por matar formigas. Por de vez em quando esquecer de colocar a
embalagem do sabonete no lixo certo. Me perdoo por já ter brigado com meu pai,
minha mãe, meu irmão, meu namorado, meus amigos (e espero que eles me perdoem
também). Me perdoo por não ter dado tanta atenção para quem era importante pra
mim. Me perdoo por simplesmente não ir com a cara de certas pessoas. Me perdoo
por ter sido reprovada na escola. Me perdoo por ter esquecido algumas vezes de
tomar as rédeas da minha vida.
Clarissa Corrêa
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